sexta-feira, 25 de junho de 2010

DESAPEGO NA POLÍTICA: GRANDE DESAFIO




Semana passada ouvi uma frase mais ou menos assim: “quem prega o desapego aos bens materiais nunca fez compras na Champs-Élysées de Paris, nem andou de Ferrari, muito menos fez um cruzeiro pelo Caribe”. Realmente, bens materiais luxuosos fascinam os indivíduos que podem desfrutar deles.

Em geral, os cargos públicos permitem usufruir, de forma ampla, destas situações prazerosas para os sentidos, seja pela facilidade de acesso, através de presentes, convites e cortesias; seja através dos recursos financeiros e benefícios à disposição dos eleitos. Isto faz lembrar a passagem evangélica que mostra como é difícil o desapego à matéria: “é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus”(Mt. 19,24)

Um fenômeno sombrio se repete nos bastidores da política, em virtude das convenções: a troca de apoio político por dinheiro, muito dinheiro. Mesmo aqueles que ingressam na política com boas intenções podem ficar deslumbrados pelo brilho do ouro, arriscando vender a própria consciência para usufruir dos bens, prazeres e luxos materiais.

O indivíduo precisa ser muito forte para não aderir às práticas inescrupulosas após experimentar dos prazeres que costumam acompanhar os cargos públicos. Tomando o exemplo de um deputado federal, incluindo o custo do salário, verba de gabinete, combustível, passagens aéreas, auxílio alimentação e demais recursos para a manutenção da função, são pagos mais de 115 mil reais por mês a cada parlamentar, sem contar com o que “entra por fora”, para os mais gananciosos. Diante deste montante, os indivíduos ficam hipnotizados pelos benefícios pessoais que estes valores podem proporcionar.

Entendo que não seria possível, no atual estágio evolutivo, exigir dos interessados a um cargo público que abdiquem da remuneração financeira. Seria difícil para um profissional liberal, um empresário, um acadêmico, um líder comunitário ou um sindicalista renunciar uma renda para servir à comunidade. A manutenção de sua família e o seu interesse pessoal estariam prejudicados excessivamente.

Da mesma forma, são necessárias algumas prerrogativas para o bom desempenho da função: viagens, telefonemas, assessores, veículos, entre outros. No entanto, os valores envolvidos parecem muito acima do razoável, o que estimula o apego a estas “vantagens” e aos recursos financeiros. Muitas pessoas, claramente, permanecem nos cargos para não perder tais “benefícios”, pois se afeiçoam aos recursos materiais disponíveis e, dificilmente, se interessam em permitir que outros ocupem o seu lugar para também dar uma contribuição à vida coletiva.

Estas reflexões são para que nós possamos nos esforçar em doar nossas preces fervorosas aos pretensos ocupantes de cargos públicos, para que tenham força de resistir ao apego exagerado pelo ouro e que consigam ser capazes de agir em proveito do bem comum, pois não é fácil o desprendimento aos bens materiais. Nossas preces, certamente, podem colaborar para que estes irmãos vislumbrem a realidade permanente do espírito e resistam às tentações dos prazeres passageiros.

DIVALDO - NEGLIGÊNCIA GOVERNAMENTAL E AS CATÁSTROFES

Em entrevista ao programa Transição, na Rede TV, Divaldo Franco analisou a responsabilidade dos indivíduos e, em especial, dos governantes negligentes perante as catástrofes que poderiam ser evitadas.

Vídeo de 5 minutos.

sábado, 12 de junho de 2010

NEGOCIAÇÕES E NEGOCIATAS


A política é a arte da negociação, onde se usa o poder de persuasão para fazer prevalecer uma conduta. Negociar é algo legítimo e necessário na política, onde deveríamos esperar o mínimo de bom-senso e ponderação das partes envolvidas, para que o resultado seja o melhor possível. Exige esforço, perspicácia, conhecimento, paciência e sabedoria para se alcançar o bem comum.

A política brasileira, no entanto, é pródiga em negociatas, onde se busca o proveito individual ou grupal, em detrimento do interesse coletivo. Daí surgem os conchavos, os esquemas, as tramóias, as maracutáias e barganhas, onde o que mais vale é conseguir o máximo de vantagem possível, com a ampliação do patrimônio material e o reforço dos recursos financeiros.

Muito dinheiro circula em consequência destas negociatas, movido pelo que há de pior no ser humano: inveja, maledicência, insensatez, cinismo, traição, vaidade e ganância, o que nos faz lembrar o alerta de Jesus: “guardai-vos de toda ganância, pois em qualquer abundância que o homem esteja, sua vida não depende dos bens que ele possua” (Lc, XII, 15).

Todos têm seu preço nas negociações políticas, porém este nem sempre precisa ser medido em dinheiro. O que se pretende trocar pelo voto ou apoio pode ter o valor da consciência tranqüila: trabalho, compromisso, responsabilidade, dedicação, compaixão e honestidade. Estas virtudes não são muito comuns na atual conjuntura brasileira, tanto que, se Diógenes de Sínope continuasse com sua lanterna à procura de uma pessoa com tais qualidades, sentiria dificuldade de encontrá-la, mesmo centenas de anos após sua encarnação na Grécia.

Lamentar a falta de honestidade nas negociações políticas chega a ser constrangedor. As pessoas riem e debocham de quem demonstra uma sincera indignação, tanto que continuam atuais as palavras de Rui Barbosa, proferidas em 1914: “(...)de tanto ver crescer a injustiça (...) o homem chega a ter vergonha de ser honesto”.

Aqueles que têm fé no futuro, no amor e no bem não podem deixar o desânimo dominar suas mentes, por mais difícil que isto seja. A mensagem do Evangelho faz recordar de Zaqueu, que se aproveitou, gananciosamente, de sua posição de destaque, prejudicando os demais. No entanto, ao ser defrontado com a meiguice de Jesus, descobriu os valores imperecíveis da Boa Nova e passou a investir para conquistá-los. Algum dia esta transformação irá acontecer no nosso meio político e as negociações ocorrerão distantes do lamaçal da ganância, “porque o Filho do homem veio para procurar e para salvar o que estava perdido” (Lc, XIX, 10).

domingo, 6 de junho de 2010

IDÉIAS DIVERGENTES



Dentre outros conceitos, a política pode ser entendida, de modo geral, como a disputa de interesses. Em virtude disso, a prática política dificilmente ocorre sem o desacordo de propósitos. Saber conviver com as divergências é fundamental para a construção de uma política responsável e proveitosa. A Doutrina Espírita também tem importantes contribuições neste aspecto.

Em primeiro lugar, temos que destacar o exemplo de Kardec no contato com os opositores do Espiritismo, que eram sempre tratados com respeito e tolerância. O mestre de Lion nos deixou o entendimento de que as idéias espíritas são “aceitas por convicção e não por constrangimento”. Dessa maneira, nos estimulou a usar métodos de convencimento, sem agredir ou causar coação àqueles que divergem de nosso pensamento, ao mesmo tempo em que devemos possibilitar a manifestação de idéias contrárias, em respeito à liberdade de conduta.

Outro grande exemplo que temos é dos benfeitores espirituais mais esclarecidos. Quanto mais moralizado e sábio for o espírito, mais suaves e convincentes são suas palavras. Os espíritos bons agem com a força da brandura para expor uma idéia ou dar uma instrução. Assim, lamentam, mas entendem que muitas de nossas decisões são resultantes da pouca experiência ou de vícios que provocam consequências desastrosas.

E o maior de todos os exemplos temos em Jesus, que encontrou uma feroz oposição às suas idéias, pois estas tinham condições de provocar grandes mudanças no organismo social onde estava inserido. Sem ofender seus opositores, o Mestre Maior mantinha-se firme em suas convicções e propósitos, sofrendo, em contrapartida, toda espécie de infâmia. Mas seus ideais se mantêm firmes e são a base de toda sociedade que pretenda ser justa e próspera.

Os espíritas deveriam estar habituados ao respeito e tolerância pelas idéias divergentes, incluindo as que surgem com a política, onde é comum a ocorrência de grupos de apoio e de oposição aos ocupantes momentâneos dos cargos públicos. Se seguirmos os exemplos apontados acima, a relação com os que divergem de nosso pensamento será mais serena, pacífica e tolerante, sem deixar, por isso, de nos mantermos firmes, decididos e convictos quanto aos ideais que abraçamos.

Sejamos situação ou oposição no debate político, sempre podemos manifestar nossas idéias com respeito e de modo pacífico, se temos fé na verdade e no futuro. Porém, quando nossas opiniões decorrem de interesses egoístas ou materialistas, a sua manifestação costuma ocorrer com imposições e violências, gerando profundo desequilíbrio no organismo social, dificultando o progresso e o bem estar coletivo.

As oposições são manifestações naturais na humanidade, formada por espíritos com graus diferentes de experiência e percepção da realidade. O contato com opiniões antagônicas possibilita o crescimento e aperfeiçoamento dos seus defensores, na busca da verdade e da melhor forma de executar uma tarefa. As idéias divergentes vão continuar existindo, porém, se nosso interesse maior for o bem comum, encontraremos um caminho que poderá trazer bons resultados para os lados diferentes da contenda.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

MOVIMENTO ESPÍRITA E DEMOCRACIA



O entendimento acerca da democracia evoluiu muito ao longo da história humana, porém, uma das partes fundamentais do seu conceito prevalece e se refere à liberdade de conduta e de decisão do indivíduo, ao mesmo tempo em que se respeita o livre arbítrio dos demais componentes do grupo social. Esta postura se adéqua à compreensão espírita da liberdade como uma lei moral natural, que se caracteriza pela livre escolha que possuímos para decidir os vários aspectos de nossas vidas, limitada à responsabilidade que temos pelo bem estar do próximo.

A compreensão da Lei de Liberdade favorece a democracia no meio espírita, cujas instituições costumam ser respeitosas quanto às diferenças e possibilitam a ampla participação dos interessados no desenvolvimento de suas atividades. As casas espíritas costumam ser ambientes onde se estimula a responsabilidade individual, onde não há hierarquia e ainda se valoriza alguém pela sua sabedoria e moralidade, independente de origem social ou classe econômica. Em um ambiente assim é difícil a ocorrência de imposições arbitrárias e antidemocráticas de um indivíduo sobre os demais.

No entanto, o que vemos em muitas instituições espíritas são fortes práticas autoritárias, como na figura dos “donos” de centros espíritas, que impedem eleições internas porque “doaram” o terreno, pagaram pela construção da sede ou algo semelhante. Vemos ainda os médiuns vaidosos, os quais se colocam como o foco das decisões. Nada pode ser feito sem consultá-los, pois através deles os “guias” da casa se manifestam. Encontramos também os pretensos “mentores espirituais”, cujo dirigismo controla cada ação do grupo. Em muitos lugares não se muda uma cadeira de lugar sem antes perguntar ao tal “mentor”.

Além disso, ainda temos muitos companheiros de ideal que se afastam dos centros e do movimento espírita porque não têm as suas ideais aceitas. Dão a entender que em outras encarnações usavam da força para fazer prevalecer suas vontades. Não encontrando condições para promover imposições e recusando ser minoria, abandonam a tarefa sem perceber que o importante é se colocar à disposição do serviço, mesmo que suas propostas não sejam aceitas pela maioria do grupo. Deveriam saber que enquanto trabalham e esperam, a verdade encontra meios para se consolidar e que a deserção da tarefa não favorece a ninguém, nem a eles mesmos.

As instituições espíritas participativas, tolerantes e plurais se tornam importantes escolas para muitos aspectos da vida, inclusive por possibilitar um proveitoso exercício de democracia para que os seus membros saibam se conduzir de forma ativa e respeitosa no meio coletivo. Os participantes destes grupos são estimulados a contribuir, responsavelmente, junto às organizações sociais e, como não poderia deixar de ser, no processo de escolha e fiscalização dos dirigentes políticos.