terça-feira, 20 de julho de 2010

COMPRAR VOTOS: VIOLENTAR CONSCIÊNCIAS



A atual e tão comum compra de votos é uma forma de criar dependência. De um controle absoluto da época da República Velha, representado pelo “voto de cabresto”, quando se obrigava a votar pelo uso da coação física, vive-se, atualmente, outra maneira de gerar submissão, pela opressão econômica: a compra de votos, que poderia muito bem ser entendida como compra de consciências. A Doutrina Espírita, pelo estímulo que promove à liberdade de conduta, contribui nesta reflexão como um importante recurso para gerar autonomia responsável nos indivíduos e resgatar a dignidade humana.

Percebemos, atualmente, grande movimentação de idéias em torno do tema compra de votos, inclusive com atuação intensiva dos órgãos jurisdicionais no combate a tal prática. A restrição de shows artísticos em comícios e a proibição da distribuição de brindes, como camisetas, foram importantes conquistas sociais. No entanto, temos que tomar cuidado com os enganos que podem ser cometidos na tentativa de libertar os eleitores da forte influência monetária de alguns candidatos ou grupos políticos.

Admitir receber dinheiro de um candidato em troca do voto já está começando a se tornar vergonhoso, ao ponto do corrompido não se sentir muito à vontade para declarar que se vendeu. Porém, muitos admitem que receberam o dinheiro e não votaram naqueles que lhes ofereciam suborno, como uma forma de se vingar de quem tentava manipulá-lo.

Essa conduta, muitas vezes anunciada como uma grande vantagem, não representa um avanço. Pelo contrário, demonstra malícia e falsidade, pois ao receber o dinheiro, incorre o indivíduo em, pelo menos, dois delitos morais, passíveis de serem alcançados pela lei humana: o primeiro é o de realizar, mesmo que tacitamente, um acordo inescrupuloso, o segundo é o de se apossar de um recurso adquirido de maneira injusta.

O que se espera do cristão esclarecido pela luz espírita é que não receba nenhum recurso de origem execrável, pois é dinheiro “sujo”, desviado, geralmente, de alguma atividade importante para a coletividade e que está sendo usado para propósitos nefastos. A decisão quanto ao voto deve ser um ato espontâneo e consciente dos cidadãos de bem e esclarecidos, que já perceberam que os seus atos geram consequências para os demais indivíduos. Desta forma, muito mais do que se vangloriar de ter recebido dinheiro sem ter votado, poderemos ter a íntima satisfação de nem ter sujado as mãos ao receber recursos indignos.

domingo, 11 de julho de 2010

O ÓBOLO DO ELEITOR



De que forma podemos tornar melhor a sociedade onde vivemos? No capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec nos dá uma indicação: “aquele que quer sinceramente se tornar útil aos seus irmãos, para isso encontra mil ocasiões; que as procure e as encontrará”. O alerta é oportuno para os que somente lamentam a sujeira na política, convidando-nos a fazer alguma coisa para torná-la melhor.

A reflexão acima serve especialmente para os eleitores sem envolvimento com condutas clientelistas de troca de favores, que desejam uma política mais limpa, porém, sentem-se sem esperanças de que melhore. Para que nossa realidade se transforme, temos que utilizar bem e confiar no nosso instrumento de participação: o voto. Mas parece tão pouco, tão sem importância um voto, diante de tanto dinheiro despejado na captação ilícita de sufrágio.

Quando acharmos que nossa participação sincera e desinteressada for pequena, que nosso único e simples voto não vale muita coisa, lembremo-nos da viúva defronte do gazofilácio (Mc XII,41 a 44), depositando seus parcos recursos no templo da sua fé em louvor ao Criador. Aquela mulher simples deixou não só duas moedas, mas deu uma lição inestimável à humanidade, sendo destacada pelo Mestre Jesus como a que tinha oferecido a maior contribuição entre os que apresentavam oferendas.

Quantos de nós dizemos: “queria ter muito dinheiro para entrar na disputa política e botar para correr toda esta corja de políticos sujos e incompetentes”, porém, se não temos os recursos financeiros ficamos inativos e rabugentos, isso quando não nos deixamos levar pela correnteza dos interesses passageiros.

A nossa democracia nos faculta o voto, que, para alguns, parece um recurso muito pequeno, mas é uma das formas que temos para participar. Se esta participação for ética, responsável e consciente, certamente ela terá imenso valor no meio coletivo, muito além de nossa percepção, como foi a contribuição da viúva que depositou sua oferenda no gazofilácio.

É claro que outros têm mais força, recursos e conhecimentos para fazer um pouco mais, além do seu próprio voto. Seja em campanhas educativas, seja na participação em instituições fiscalizadoras, seja na divulgação de fatos relevantes ou qualquer outro meio, o bem e a justiça esperam a colaboração dos que podem dar sua oferenda.

Por menor que pareça nossa contribuição, se esta for motivada por sentimentos de fraternidade e esperança, certamente ela será somada a muitas outras que surgem com propósitos semelhantes e, mais cedo ou mais tarde a política se tornará melhor. O valor desta participação consciente e responsável, aparentemente pequeno, é expressivo e possibilita caminhar na direção do bem mais valioso: a consciência tranquila.

domingo, 4 de julho de 2010

SUPULCROS CAIADOS NA POLÍTICA


Esta semana começa a campanha eleitoral autorizada pela justiça, quando os candidatos terão a oportunidade de nos mostrar que são os melhores e os mais preparados para assumir os cargos pretendidos.

Um professor me disse, certa vez, que não sabia em quem votar, pois todos os candidato são bons. Referia-se ele, ironicamente, às técnicas de propaganda que são utilizadas, em muitas oportunidades, de modo a esconder as limitações dos concorrentes e destacar somente seus pontos positivos. Mais grave ainda é quando ocorre a montagem de uma personalidade completamente diferente da realidade comportamental do candidato, que elabora uma farsa na tentativa de ludibriar o eleitor. São como sepulcros caiados, limpos por fora e cheios de podridão por dentro.

Sorrisos fartos, beijos em crianças, abraços em "populares", são algumas das condutas, muitas vezes hipócritas, usadas para conquistar votos. Além disso, o material de divulgação deve ser impecável e diversificado. Muita maquiagem e recursos de informática são utilizados para corrigir “imperfeições” nas imagens, comparadas a verdadeiras máscaras para esconder tendências íntimas.

Nos debates, os que optam pelo fingimento, agem metodicamente após exaustivos treinos e orientações precisas de estudiosos do comportamento humano. Evitam falar em temas polêmicos para não desagradar parcelas do eleitorado e de medidas enérgicas que possam tomar para "tentar" resolver os problemas sociais.

Sem questionar a capacidade de sedução dos profissionais da propaganda, grande parte do eleitorado é presa fácil destas armadilhas, pois ainda é muito influenciada pela aparência e não toma as precauções necessárias para aprofundar o conhecimento sobre o pretendente a cargo eletivo. O desinteresse em pesquisar um pouco mais sobre o candidato indica tendências egoístas de alguns eleitores, pois a negligência é falta de compromisso com o coletivo.

Neste mundo de provas e expiações quase todos usamos alguma máscara e escondemos intenções e pensamentos que nos envergonhariam ou dificultariam alcançar uma pretensão. Com o uso da hipocrisia, muitos preferem apenas parecer ao invés de ser, de modo a conseguir, em troca, aceitação, admiração ou inveja, recompensas passageiras que se esvaem com o corpo físico, ou mesmo antes da desencarnação, quando caem as máscaras.

O homem e a mulher de bem têm necessidade da auto-educação para se tornarem autênticos, em nome do progresso individual e coletivo, mesmo que não agrade a todos, mas que possibilite andar de cabeça erguida e conquistar a paz interior.

Por causa das técnicas de manipulação e marketing não temos como ter absoluta convicção se um candidato é, autenticamente, bom. A única certeza que podemos ter é se votaremos com a melhor das intensões: o bem comum. Desta forma, a lei de causa e efeito atuará, fazendo o bem sair do bem. Assim, escolheremos bons representantes ou, pelo menos, ficaremos de consciência tranquila por estarmos fazendo a nossa parte.