domingo, 23 de maio de 2010

SABER JULGAR



A passagem evangélica do “não julgueis” é uma importante advertência quanto à forma como olhamos o comportamento das outras pessoas. A recomendação de Jesus não é de que fechemos os olhos para os erros praticados pelos semelhantes, porém, esclarece que a força de nossas censuras no combate ao mal está ligada à capacidade de não repetirmos a conduta que condenamos. Diante disso, pelo bem do interesse coletivo, podemos afastar dos cargos públicos aqueles que julgarmos sem condições de nos representar.

Escolher um representante político é fazer um julgamento. É recomendável ponderarmos os prós e contras, a postura perante a família, a experiência política, as propostas de ação, a vida pregressa e, inclusive, a “ficha criminal”, para saber se é limpa ou suja e, só então, escolher o que considerarmos melhor. A questão que precisa ser respondida é: estamos preparados para fazer este julgamento?

Nós somos ágeis em condenar aquelas práticas escandalosas dos políticos: desvio de verbas, favorecimentos, fraude em licitações, compra de votos, abuso do poder e muito mais. No entanto, em nosso dia-a-dia cometemos desvios que também são nocivos, intitulados eufemisticamente de “jeitinho brasileiro”: estacionar em fila dupla ou em vaga de cadeirante, passar uma “propina”, furar fila, sonegar tributo, ficar com o troco a mais, entre tantos outros. Estes comportamentos reduzem nossa força para mudar a corrupta realidade política brasileira.

Alguém pode pensar que não podemos comparar o gesto de um cidadão comum com a conduta desleal de um político. Claro que precisamos respeitar as proporções, pois enquanto um prejudica poucos, o outro promove sua ação devastadora em uma dimensão bem maior. Porém, o móvel de ambos é o mesmo: o ato de pensar em si sem se preocupar com os demais, o egoísmo. É o cidadão comum do “jeitinho brasileiro” que quer julgar os atos dos políticos? É o cidadão comum que diz: “se fosse eu também roubaria um pouco”, que quer condenar os políticos?

Pensando no melhor para a comunidade onde a providência divina nos inseriu, nós podemos e devemos fazer uma boa escolha, um bom julgamento. É necessário não admitir que os “ficha suja” permaneçam em funções que interferem na vida de todos e que afetam, especialmente, a população mais vulnerável. Para isto acontecer, precisamos fazer nossa reforma moral e expurgarmos de nosso comportamento, as práticas danosas inspiradas pelo egoísmo. Quanto mais rápida for a nossa mudança, mais rapidamente colheremos os bons resultados, inclusive o de sabermos julgar quem está em condições de assumir funções tão importantes para nossa população.

Em favor dos chamados “ficha suja”, ainda nos resta o dever da piedade, rogando à bondade divina a força para que se arrependam do mal praticado e, certamente, a justiça universal dará novas oportunidades, seja nesta ou em outra existência, para que reparem todo o prejuízo que causaram.

domingo, 16 de maio de 2010

OS ESPÍRITAS EM ANO DE COPA E ELEIÇÃO



No dia da publicação deste artigo faltam 26 dias para a Copa do Mundo de Futebol da África do Sul. Neste momento, a maior parte da nossa atenção já está voltada para os “gladiadores” de uniforme amarelo, sobre os quais são depositadas tantas esperanças.

É impressionante ver a mobilização em torno da Copa do Mundo. Quase todas as propagandas de televisão remetem ao tema. Nas discussões entre amigos, colegas de trabalho, estudantes, nos ponto de ônibus, nas recepções de consultórios, nos noticiários, esse é o assunto predominante. Claro que entre nós, espíritas, o interesse não é menor.

Como é bom ver o Brasil se destacando no cenário mundial, sendo referência. Como é bom quando o time brasileiro chega à vitória e a nossa auto-estima alcança os cumes da satisfação, pelo sentimento de nacionalidade. Claro que nós, espíritas brasileiros, também vibramos, torcemos e nos emocionamos como quase todo compatriota e esperamos o hexacampeonato para o Brasil. Já dá para imaginar as ruas coloridas e decoradas, as carreatas e as bandeiras expressando o nosso amor pela pátria amada.

No dia da publicação deste artigo faltam 141 dias para as Eleições 2010. Será a maior eleição informatizada do mundo, com cerca de 130 milhões de eleitores, que escolherão 27 governadores, 54 senadores, 513 deputados federais, 1059 deputados estaduais e 1 presidente da república. Entretanto, apesar de ser um acontecimento de grande importância para a organização social, que irá interferir bastante nas condições de vida da população, os brasileiros não se preocupam tanto com o tema, se comparado à Copa do Mundo, inclusive nós, espíritas.

Como será bom, quando estivermos comprometidos com o nosso sentimento de amor pela nação que nos acolhe e encararmos as eleições com mais seriedade e responsabilidade, para que possamos alcançar vitórias muito mais expressivas que um campeonato de futebol: conquistas na educação, na saúde, na preservação ambiental, no lazer, no apoio à população carente e em tantos outros desafios que precisamos enfrentar.

Nesta tarefa, o Espiritismo pode nos dá uma grande ajuda na formação da seleção que fará a nossa sociedade melhor. Para nos defender dos ataques do mal, escalamos a fé em Deus. Na zaga colocamos o perdão e a mansuetude. Nas laterais selecionamos o bom senso e a indulgência. No meio-de-campo é imprescindível a instrução, a razão, além da paciência e a esperança no futuro. Para o ataque não podem faltar os maiores artilheiros: a humildade e o amor.

Com esta seleção, que tem à frente da comissão técnica o professor Jesus Cristo, teremos muitas vitórias a comemorar, em especial contra os adversários mais difíceis: o materialismo, o individualismo e a negligência.

domingo, 9 de maio de 2010

INFLUÊNCIA POLÍTICA ESPÍRITA



Muita gente ainda acha estranho a relação que defendemos entre Espiritismo e política, considerando incompatíveis os dois assuntos, seja por descrença quanto à prática político-partidária, seja por temer uma manipulação interesseira, promovida por supostos “líderes” espíritas, no processo eleitoral, entre outros motivos.

No entanto, desejamos demonstrar que o modo de pensar espírita, que admite a reencarnação, a vida espiritual e sua relação com o mundo corpóreo, a lei de causa e efeito e a supremacia da moral cristã, contribui para disciplinar e orientar a conduta humana nos mais variados aspectos da vida, inclusive no relacionamento com o Estado e as instituições públicas.

Dessa forma, a prática dos adeptos do Espiritismo, como um movimento social livre e legítimo, pode interferir na conduta dos cidadãos e na dos nossos representantes políticos. O mais expressivo exemplo do que está sendo mencionado aqui é a Campanha Nacional Brasil Sem Aborto, da qual o Movimento Espírita participa aberta e intensamente.

Partindo de premissas filosófico-morais, como a da pré-existência dos espíritos, do planejamento reencarnatório e da solidariedade universal com vistas à evolução dos seres, os espíritas se posicionam de modo firme na recusa ao aborto, com exceção no caso de perigo de vida para a mãe*. Porém, o movimento espírita, juntamente com outras correntes de pensamento, não se limita a rejeitar a legalização do aborto, mas atua fortemente junto aos órgãos públicos e os representantes políticos para que este posicionamento seja um compromisso estatal.

Ao participar de abaixo-assinados, passeatas, manifestações públicas, debates em órgãos legislativos, audiências com representantes políticos, entre outras ações, os membros do Movimento Espírita agem como grupo de pressão política, com possibilidades de influir na elaboração de leis e de programas administrativos.

Dessa maneira, o Movimento Espírita, através de entidades como a Federação Espírita Brasileira e a Associação Médico Espírita, se contrapõe ao pensamento de vários grupos que apóiam o aborto. Esta oposição se dá, apenas, no campo das idéias, como fazia Kardec, de forma pacífica e não passiva. O grupo que apresentar os melhores argumentos, que possuir maior alcance social e, inclusive, trabalhar pela eleição dos representantes de suas idéias, obterá, junto ao Estado, os resultados almejados.

Fica claro, assim, que o Espiritismo pode interferir positivamente nas escolhas políticas dos espíritas, que devem ser coerentes com a doutrina que professam. A campanha pela rejeição ao aborto é uma etapa. Muito há que ser trabalhado, em parceria com outros movimentos sociais, filosóficos, religiosos, científicos, em defesa da vida, do meio-ambiente, da tolerância entre as culturas, da melhoria da educação e de tudo o mais que puder tornar o nosso mundo e o nosso país um lugar melhor.



OBS.: Para aprofundar este tema, pode ser consultada a obra ESPIRITISMO E FORMAÇÃO POLÍTICA, de Paulo R. Santos. Agradeço ao Raul Ventura por ter me presenteado com o texto.

* Questão 359 de O Livro dos Espíritos

sábado, 1 de maio de 2010

JESUS E A QUESTÃO DOS PRIVILÉGIOS



Quem conhece e convive no ambiente político sabe que o pensamento mais comum no meio ainda é o de buscar “se dar bem”, ou seja, conseguir todos os tipos de vantagens e privilégios para si, seus familiares, amigos e aliados, indiferentes ao interesse coletivo. A partir desta constatação podemos perceber o quão distante ainda estamos de aplicar os conceitos cristãos na sua plenitude, que, como decorrência da lei de justiça, amor e caridade, rejeitam qualquer tipo de privilégio.

Jesus deixou claro que toda posição de destaque, longe de constituir um privilégio, é uma grande responsabilidade, para que seja alcançado o bem comum, como vemos em Mt, XX,26: “quem quiser ser o maior, seja servidor”. Aquela lição foi ministrada quando a mãe dos apóstolos João e Tiago pediu privilégios, no Reino dos Céus, para seus filhos. Diante daquele pedido, Jesus esclareceu que a posição de cada um é resultado do mérito pessoal, evidenciado na capacidade de se doar ao semelhante, sacrificando-se, de algum modo, em proveito do próximo.

Mas, talvez a lição mais emblemática do Mestre, que mostra a incompatibilidade de privilégios com a Lei de Deus, está na passagem em que Jesus falava ao povo e os seus familiares vieram ao seu encontro, quando alguém disse: tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar-te, ao que ele responde: quem é minha mãe e meus irmãos? E complementa: todos os que fazem a vontade do Pai celeste são minha mãe e meus irmãos (Mt. XII, 46 a 49).

O acesso ao Mestre não dependia de laços consangüíneos, mas de afinidade com os ideais do Evangelho. Não importava tanto a ligação genética, mas a ligação moral era e é fundamental. A compreensão daquela lição pode ser entendida,ainda, como um manifesto contra privilégios, como o nepotismo e a concessão de vantagens indevidas a grupos ou pessoas. O Mestre nos mostra que não devemos cuidar, apenas, de nossos familiares e amigos, mas de toda a família humana, no limite do nosso alcance.

Isso não quer dizer que as pessoas da família de Jesus não tinham compromisso com os seus ideais, pois, como sabemos, Maria, a sua mãe, expressava a ternura e a meiguice ensinadas pelo seu filho. O fato de ser familiar não lhe trouxe privilégios injustos. O destaque de Maria na história terrena não está no fato de ser parente de Jesus, mas no seu compromisso pessoal de vivenciar a Lei de Deus.

Diante disso, podemos conceber que um parente ou um amigo de um político tenham condições de assumir uma posição de destaque pela sua capacidade, responsabilidade, competência e interesse pelo bem comum. No entanto, como esta conduta é algo bastante raro, bem fez a justiça brasileira ao proibir o nepotismo, para tentar evitar vantagens indevidas e concentração de poder excessiva, fato incompatível com a democracia e com a lei de amor.



ATENÇÃO, ATENÇÃO: O prazo para alistamento ou transferência de título de eleitor vai até quarta-feira (05 de maio). Cuidado para não perder a oportunidade de participar da maior eleição da história do país e, dessa forma, contribuir para tornar o Brasil um lugar melhor.