
Semana passada ouvi uma frase mais ou menos assim: “quem prega o desapego aos bens materiais nunca fez compras na Champs-Élysées de Paris, nem andou de Ferrari, muito menos fez um cruzeiro pelo Caribe”. Realmente, bens materiais luxuosos fascinam os indivíduos que podem desfrutar deles.
Em geral, os cargos públicos permitem usufruir, de forma ampla, destas situações prazerosas para os sentidos, seja pela facilidade de acesso, através de presentes, convites e cortesias; seja através dos recursos financeiros e benefícios à disposição dos eleitos. Isto faz lembrar a passagem evangélica que mostra como é difícil o desapego à matéria: “é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus”(Mt. 19,24)
Um fenômeno sombrio se repete nos bastidores da política, em virtude das convenções: a troca de apoio político por dinheiro, muito dinheiro. Mesmo aqueles que ingressam na política com boas intenções podem ficar deslumbrados pelo brilho do ouro, arriscando vender a própria consciência para usufruir dos bens, prazeres e luxos materiais.
O indivíduo precisa ser muito forte para não aderir às práticas inescrupulosas após experimentar dos prazeres que costumam acompanhar os cargos públicos. Tomando o exemplo de um deputado federal, incluindo o custo do salário, verba de gabinete, combustível, passagens aéreas, auxílio alimentação e demais recursos para a manutenção da função, são pagos mais de 115 mil reais por mês a cada parlamentar, sem contar com o que “entra por fora”, para os mais gananciosos. Diante deste montante, os indivíduos ficam hipnotizados pelos benefícios pessoais que estes valores podem proporcionar.
Entendo que não seria possível, no atual estágio evolutivo, exigir dos interessados a um cargo público que abdiquem da remuneração financeira. Seria difícil para um profissional liberal, um empresário, um acadêmico, um líder comunitário ou um sindicalista renunciar uma renda para servir à comunidade. A manutenção de sua família e o seu interesse pessoal estariam prejudicados excessivamente.
Da mesma forma, são necessárias algumas prerrogativas para o bom desempenho da função: viagens, telefonemas, assessores, veículos, entre outros. No entanto, os valores envolvidos parecem muito acima do razoável, o que estimula o apego a estas “vantagens” e aos recursos financeiros. Muitas pessoas, claramente, permanecem nos cargos para não perder tais “benefícios”, pois se afeiçoam aos recursos materiais disponíveis e, dificilmente, se interessam em permitir que outros ocupem o seu lugar para também dar uma contribuição à vida coletiva.
Estas reflexões são para que nós possamos nos esforçar em doar nossas preces fervorosas aos pretensos ocupantes de cargos públicos, para que tenham força de resistir ao apego exagerado pelo ouro e que consigam ser capazes de agir em proveito do bem comum, pois não é fácil o desprendimento aos bens materiais. Nossas preces, certamente, podem colaborar para que estes irmãos vislumbrem a realidade permanente do espírito e resistam às tentações dos prazeres passageiros.