quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

PARTIDO POLÍTICO ESPÍRITA?

A idéia surgiu no século XIX, como uma tentativa de denegrir a imagem da Doutrina Espírita, apresentada em um relatório ao senado francês. Como tudo que envolvia o Espiritismo, gerou ampla repercussão. O assunto foi tratado nas edições da Revista Espírita de julho e agosto de 1868, quando mais uma vez se viu uma tentativa de macular a Doutrina Espírita contribuir para uma maior aceitação de seus postulados.

Kardec não rejeitou, de todo, a idéia, pois entendeu que a concepção de partido nem sempre está relacionada com luta e divisão, podendo ser entendida como a força de uma opinião que merece ser examinada. O codificador, então, deixou claro que o Espiritismo tem capacidade de emitir “pontos de vista” respeitáveis quanto aos fatos que interferem na vida humana, inclusive na vida pública.

Em diálogo com alguns companheiros espíritas, pude perceber, em algumas ocasiões, uma completa rejeição no relacionamento entre o Espiritismo e os fatos da política, quanto mais a um partido político. De fato, a doutrina consoladora é inconciliável com práticas abusivas, egoístas, interesseiras, tão comuns na vivência política. Mas é justamente por isso que sua influência deve se tornar mais forte, para estimular a solidariedade, a tolerância, a cooperação, o respeito às diferenças, o desejo por justiça e a busca pela paz social, ou seja, para estimular o relacionamento amoroso entre os membros da sociedade.

O escritor cearence Luiz Gonzaga Pinheiro, no livro Espiritismo e Justiça Social, defende a criação de um partido espírita, como uma das muitas formas de os espíritas atuarem intensamente na busca de condições sociais mais dignas para todos os membros da comunidade e como uma maneira de repudiar os abusos da politicalha interesseira.

Concordando ou não com esta proposta, fica claro que o Espiritismo tem amplas possibilidades de influenciar de maneira positiva as instituições sociais, reforçando os ideais cristãos e esclarecendo quanto às conseqüências de nossas ações. Lembremos Kardec (ESE, cap. XI, 4).: “quando os homens as tomarem por normas de sua conduta (o amor e a caridade) e por base de suas instituições(...) farão reinar entre eles a paz e a justiça”.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

KARDEC E OS TEMAS DA POLÍTICA 1: LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE

              O Codificador Allan Kardec, como homem sensato e bastante comprometido com a realidade da sociedade que o cercava, comentou, em várias oportunidades, temas relacionados à política, entendida aqui como o fenômeno social caracterizado pela disputa de interesses (pessoais, institucionais ou de grupos) com vistas a alcançar o poder de organizar e administrar o Estado.
            Abordaremos, neste primeiro comentário sobre as considerações de Kardec, o texto encontrado no livro Obras Póstumas com o lema da Revolução Francesa, que inspira os modernos ideais democráticos.
            Liberdade, igualdade e fraternidade, na visão do nobre Codificador, não são somente palavras, mas ideais que devem ser buscados por todos os indivíduos, em especial os detentores do poder, de modo a possibilitar um convívio social harmônico e justo.
            No entanto, para a sociedade alcançar tal progresso, Kardec identifica os mais perniciosos obstáculos que devem ser superados: o egoísmo e o orgulho. Nas palavras do grande professor: “sendo o egoísmo a praga dominante da sociedade, enquanto ele reinar dominador, o reino da verdadeira fraternidade será impossível”... “para a realização da felicidade social, a fraternidade está em primeira linha”... “tratar alguém como irmão é tratá-lo de igual para igual. Mas qual o inimigo da igualdade? É o orgulho”... “os inimigos da liberdade são, ao mesmo tempo, o egoísmo e o orgulho”.
            O mestre lyonês considerou, ainda, que quando há dominação e injustiça no meio social, há maior possibilidade de conflitos agressivos entre os indivíduos e grupos na busca dos instrumentos do poder, ou para os oprimidos saírem do jugo ou para que as ações dominadoras mudem de mãos.
            Como remédio para tamanho mal, sugere Kardec que cada um de nós trabalhe para “extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo”. Somente assim o convívio coletivo possibilitará a consolidação de instituições e condutas que proporcionem o amparo aos fracos, a superação da ignorância, a realização da justiça, a imunização contra os desvios interesseiros e o cumprimento sensato dos deveres de cada um. Essa é a fórmula para a conquista do bem-estar íntimo e público, a paz individual e social.           
           Observemos que Allan Kardec não se opõe contra pessoas nem grupos, mas contra sentimentos individualistas e idéias materialistas, pois não iremos por fim ao mal destruindo os maus, mas colaborando para sua auto-educação na direção do bem.
            Sonho distante? Mas certamente possível. E quanto mais intensamente colaborarmos com a educação e a reforma moral, nossa e dos demais seres humanos, mais rapidamente os  bons resultados serão alcançados. É a felicidade social, portanto, a nossa felicidade, que está jogo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O “JEITINHO” BRASILEIRO

         A maior “praga” do Brasil é o “jeitinho brasileiro”. Ele infecta todos os aspectos da vida social, abalando as bases de um convívio respeitoso, honesto e justo. É a manifestação e prática da corrupção, de desvios de conduta, de atitudes interesseiras  e sórdidas.
O propagado “jeitinho brasileiro” é um eufemismo para designar as ações que são praticadas em franco desrespeito às leis e à ética, que de algum modo, prejudicam outra(s) pessoa(s) ou o próprio Estado. Assim, busca-se alcançar rapidamente um resultado ou conquistar um benefício.
É manifestação do materialismo imediatista, pois sua ocorrência se dá através de pessoas confiantes de que a justiça não irá punir seus atos e que, portanto, deve aproveitar o momento para alcançar todas as conquistas possíveis, buscando apenas a satisfação pessoal ou de um grupo.
Também é manifestação do egoísmo, pois o praticante não expressa nenhuma preocupação com o semelhante e age com a certeza de que prejudica algo ou alguém. O que importa são, primeiramente, os seus interesses pessoais.
Como um povo pode progredir quando o desrespeito às leis e ao próximo são práticas rotineiras, aceitas socialmente? Dentre as quais podemos citar: furar fila, mania de atrasar nos compromissos, fazer “gato” (furto de energia), adquirir deliberadamente produtos falsificados (pirateados),  estacionar em faixa dupla, oferecer ou receber propinas... A lista é gigante.
É claro que não somo santos, nem anjos ainda, mas a Doutrina Espírita nos faz entender que a Lei de Causa e Efeito não deixará impune nenhum ato (questão 964 do Livro dos Espíritos), mesmo que a justiça humana não alcance, mesmo que aceito socialmente, pois toda conduta que prejudica alguém gera desequilíbrio no Universo, fazendo surgir a necessidade de reparação, nesta ou em outra existência. E o que parecia ser uma vantagem, conquistada pela “malandragem”, torna-se um fardo para o praticante carregar até corrigir o que fez de errado.
           Portanto, o melhor é tentarmos fazer tudo da forma correta e percebermos que os pequenos atos de desvios de conduta também dão margem e legitimam os grandes atos de corrupção praticados pelos ocupantes de cargos públicos. Se nós fizermos a nossa parte de modo ético e legal, certamente os grandes corruptos encontrarão menos oportunidades de “explorar a viúva”, “meter a mão no alheio”, “agir por baixo do pano”, “cometer maracutáias”, “ajeitar os amigos”, “fazer o povo de besta”, “mama o leite da vaca”, ou seja, de darem um jeitinho brasileiro.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

REVOLUÇÃO VERSUS EVOLUÇÃO

           É comum nos indignarmos com a nossa realidade política, ao ponto de propormos medidas drásticas como um golpe de Estado ou o retorno da ditadura dos militares como soluções possíveis para o problema.
            Porém, a história humana é pródiga de fatos que demonstram que transformações repentinas nas organizações estatais e nas estruturas de poder, as chamadas “revoluções”, não promovem a melhoria repentina de uma sociedade, pois normalmente são realizadas mediante o uso da violência e da manipulação de dados que camuflam os resultados obtidos. Nem as tão alardeadas “revoluções” gloriosa e francesa, não trouxeram mudanças bruscas. Esta última, com os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade que inspiram as democracias de todo o mundo, ainda foi seguida por uma ditadura pouco tempo depois. Mais recentemente, as “revoluções” nos países socialistas, mesmo trazendo, em alguns casos, melhorias dos indicadores sociais, suprimiram a liberdade de expressão e conduta.
            Estas recordações nos servem de exemplo, pois se queremos um país melhor e mais justo, vamos fazer a reforma gradual e constante de nossas condutas individuais e, por conseqüência, de nossa vivência coletiva, viabilizando a evolução social.
            A Doutrina Espírita nos orienta que a evolução não dá saltos (Lei do Progresso) e que é fruto de nossas decisões e ações renovadas, a partir do conhecimento de nossa natureza espiritual e essência divina: fomos feitos para o amor, a justiça, a sabedoria e a paz.
            Vamos fazer a nossa parte por um mundo e um país melhores, mudando a nossa conduta egoísta e interesseira e, com a Doutrina Espírita, contribuir para clarear mentes, ampliar percepções, abrir os olhos de nossos semelhantes através do exemplo e da educação. Por que esperar para depois? 2010 é ano de eleições, ótima oportunidade para colaborar mais intensamente neste processo. Ou será que nós também somos do tipo que “não está nem aí” ou que quer, apenas, “se dar bem”?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O porquê desta proposta


 
Estamos em ano eleitoral e mais uma vez, pelo menos dois caminhos se abrem aos cidadãos brasileiros: aceitar, de maneira conformada, omissa e até, conivente o nosso sistema político corrupto, injusto e interesseiro, ou contribuir para reformá-lo, com vistas ao bem coletivo e visando uma sociedade mais fraterna.
Aquele que foi tocado pelo Evangelho e esclarecido com a luz da Doutrina Espírita deve atuar ativamente e efetivamente para a construção de um mundo melhor. Deve, por impositivo da consciência renovada, dar a sua parcela de contribuição para a construção do Reino de Deus entre os homens da Terra, em todos os segmentos da vida, inclusive na condição de cidadão político, que, com suas ações, palavras e idéias pode interferir ativamente para a implantação de uma sociedade solidária e harmoniosa.
Espíritas, não nos acomodemos  diante da possibilidade de renovação social. A obra espírita é essencialmente educadora/reformadora. Omissão é desamor, desinteresse pelas dores do próximo. Descrença é incompreensão da nossa origem divina, que nos criou para a angelitude. Conivência é derrota vergonhosa para as concepções imediatistas e materialistas, representadas pela postura do “se dar bem”, idéia egoísta geradora de tantos sofrimentos.
Vamos unir os nossos esforços nesse debate e, especialmente, na tarefa educativa de despertar consciências para a responsabilidade coletiva na construção de um mundo melhor, rumo a um convívio mais respeitoso e fraterno, ostentando o estandarte cristão de “fazer aos outros o que queremos para nós mesmos”.
Pretendemos, aqui, fazer reflexões semanais, esperando a contribuição de todos os que estiverem interessados na reforma, gradual e persistente, de nossa sociedade rumo à fraternidade. Espero comentários, idéias e todo tipo de colaboração para que este trabalho se torne coletivo e alcance bons resultados. 

Obrigado e um grande abraço.